quarta-feira, 18 de março de 2009

29 - Reis - 10ª Parte - Fim do Reino de Judá

Destruição de Jerusalém
Joaquim, tão logo assumiu o trono, foi obrigado a pagar um elevado tributo ao faraó Necao II. Então, para obter os recursos necessários ao pagamento exigido em ouro e prata, Joaquim teve que criar impostos. O reinado de Joaquim durou onze anos, sendo que ele foi colocado no trono em lugar de seu irmão pelo faraó Necao. Seu governo foi marcado pelo domínio do Egito sobre uma grande parte dos territórios antes pertencentes aos assírios.

Em 605 a.C., Nabucodonosor, rei da Babilônia, enfrentou e derrotou os exércitos egípcios em Carquêmis, marchando em seguida rumo à costa do Mediterrâneo. Em sua marcha, ele foi devastando as cidades filistéias que encontrou em seu caminho. Os povos da região entraram em pânico e Joaquim se voltou desesperado em busca da ajuda egípcia. Sem obter ajuda, ele acabou cedendo ao rei da Babilônia. No terceiro ano de seu reinado, ele se rebelou contra Nabucodonosor. Em conseqüência dessa revolta, Jerusalém foi sitiada pelos exércitos babilônicos. É provável que Joaquim tenha morrido durante este cerco ou então tenha sido levado como prisioneiro para Babilônia.

Com a morte de Joaquim, o seu sucessor foi seu filho Jeconias, que subiu ao trono com dezoito anos de idade. Seu reinado durou pouco mais de três meses, sendo que ele foi levado como prisioneiro para Babilônia pelo rei Nabucodonosor. Juntamente com ele, vários membros da família real e da corte, bem como muitos tesouros, também foram levados pelos babilônicos. No exílio, Jeconias gerou sete filhos. Contudo, nenhum deles nunca subiu ao trono de Jerusalém.

Sedecias foi o último rei de Judá. Ele era o terceiro filho de Josias e foi posto no trono por Nabucodonosor quando Jeconias foi levado como prisioneiro para Babilônia. O reinado de Sedecias durou onze anos e foi marcado pela falta de tato do rei, o que levou a desastrosas conseqüências. Aconselhado por Jeremias, Sedecias se manteve fiel ao rei da Babilônia, tendo ido àquela cidade no quarto ano de seu reinado para pagar tributo ao rei. Três anos mais tarde, seguindo o conselho de seus oficiais, ele se opôs ao domínio babilônio e se rebelou contra Nabucodonosor e pediu ajuda militar ao Egito. Jeremias o aconselhara a não fazer isso, uma vez que ele havia jurado lealdade ao rei babilônio em nome de Javé. O resultado imediato foi que os exércitos babilônicos cercaram Jerusalém.

Em 597 a.C., os exércitos de Nabucodonosor conquistaram Jerusalém. A cidade foi severamente danificada, enquanto o rei e os soldados fugiram, deixando o povo nas mãos do invasor. Eles foram alcançados pelos babilônios nas planícies de Jericó e foram mortos. Os filhos de Sedecias foram mortos na presença dele e ele foi cegado e levado como prisioneiro para Babilônia, onde morreu. Juntamente com ele, também foram levados para Babilônia os demais membros da classe governante, os militares, os intelectuais e os donos dos meios de produção, ou seja, as pessoas mais ricas de Judá. Este foi o primeiro exílio.

No ano 587 a.C., Jerusalém foi completamente destruída pelos exércitos de Nabucodonosor. As muralhas da cidade foram derrubadas, o templo foi incendiado e os seus habitantes foram aniquilados. Os tesouros e todas as pessoas mais importantes foram levados para Babilônia. A deportação foi muito maior que a anterior. Assim, o reino de Judá deixou de existir. No território de Judá ficaram apenas os mais pobres, sendo que todo o restante do povo que sobrevivera à conquista foi levado como cativo para as cidades da Babilônia. Este foi o segundo exílio.

Depois disso, Nabucodonosor nomeou Godolias para ser o governador de Judá. Numa última tentativa de reassumir o controle do país, Godolias foi assassinado. Entretanto, a situação não mudou em nada.

A época dos reis Josias, Joaquim, Jeconias e Sedecias foi o tempo em que Jeremias exerceu sua atividade profética. Quando houve a segunda deportação, Nabucodonosor permitiu que o profeta permanecesse em Judá. Ele, então, ficou residindo na casa do governador Godolias.

No quinto ano do exílio de Jeconias, o profeta Ezequiel iniciou suas atividades.

Jerusalém foi destruída quando Priés era o faraó do Egito. Na mesma época, a Grécia cunhava as primeiras moedas enquanto Drácon, em Atenas, instituía as leis aristocráticas.

Em 561 a.C., o rei Evil-Merodac concedeu anistia a Jeconias e o retirou da prisão, colocando-o na corte de Babilônia e concedendo-lhe vários privilégios.

Nilson Antônio da Silva

28 - Reis - 9ª Parte

Rei Josias e Rei Manassés
O sucessor do rei Manassés foi Amon, cujo reinado durou apenas dois anos, de 642 a.C. a 640 a.C. É provável que ele tenha sido assassinado por pessoas da corte ligadas a um partido anti-assírio, as quais desejavam restabelecer a dinastia de davídica, embora Amon seja descendente de Davi. Seus servos mataram-no dentro de seu palácio, quando ele estava com a idade de vinte e quatro anos. O povo, ao saber do ocorrido, puniu os assassinos e sepultou o rei junto aos restos mortais de seu pai Manassés. Josias, filho de Amon, que era uma criança de oito anos de idade, foi colocado no trono pelo próprio povo, que desejava manter a linhagem de Davi. Provavelmente o próprio partido ligado aos camponeses que colocou Josias no trono assumiu a regência durante a minoridade do rei.

Josias reinou durante trinta e um anos em Jerusalém. Seu reinado foi marcado pelo combate à idolatria tanto em Judá quanto nas terras do sul do antigo reino de Israel. Em Jerusalém, ele reformou o templo. Durante as obras de reforma, os operários encontraram um livro contendo os capítulos do Deuteronômio. Josias considerou o achado de tal importância que fez com que fosse lido para todo o povo em uma cerimônia especial. O livro do Deuteronômio, que nascera da catequese dos levitas em meio às tribos do norte, foi transformado em Lei de Estado. Assim, Josias procurou dar nova fonte à identidade javista do povo hebreu. Ele pretendia acabar com as influências religiosas e culturais dos cananeus, assírios, fenícios, egípcios, moabitas e amonitas. No décimo oitavo ano de seu reinado, ele fez celebrar a Páscoa no dia 14 de Nisã, tendo organizado uma festa tão grande que não se via desde os tempos do profeta Samuel. Ele mesmo contribuiu com milhares de cabeças de gado e outros animais.

No final do reinado de Josias, o faraó Necao II foi lutar contra os medos e os babilônios e, para tanto, teve que atravessar os territórios israelitas. Os medos e os babilônios haviam derrotado os assírios e, assim, os egípcios viram uma oportunidade de dominar as terras da Ásia. Josias interceptou os exércitos do faraó e tentou rechaçá-los em Meguido. Durante a batalha, ele foi ferido e morreu.

Josias é o único rei que recebe elogio incondicional do hagiógrafo. Ele foi um rei que procurou eliminar a opressão e a corrupção e buscou reunificar o povo de Deus.

O sucessor de Josias foi seu filho Joacaz, que subiu ao trono aos vinte e três anos de idade. Como o Egito se tornara a potência da região e ele executou uma política contrária aos interesses dos egípcios, acabou sendo deposto e exilado pelo faraó Necao II. O seu irmão Eliacim, cujo nome foi mudado para Joaquim por Necao II, foi colocado em seu lugar pelo faraó. Joacaz foi levado como prisioneiro para o Egito e lá morreu, tendo sido o primeiro rei israelita a morrer no exílio. Os historiadores situam o seu curto reinado de apenas três meses durante o ano 609 a.C. As escrituras afirmam que ele realizou práticas idolátricas.

Nilson Antônio da Silva

27 - Reis - 8ª Parte

Profeta Isaías, contemporâneo de Ezequias - pintura da Capela Sistina - Vaticano
O sucessor de Acaz foi o seu filho chamado Ezequias. Quando Acaz morreu, Ezequias tinha apenas cinco anos de idade. Com isso, um regente governou até que ele atingisse a maioridade. Nesse ínterim, o rei Teglat-Falasar III também morreu e o seu sucessor foi Salmanasar V. Os assírios destruíram a coalizão entre os reinos de Israel e Aram e se puseram a conquistar a Palestina. Judá, então, teve que pagar tributo à Assíria durante vinte anos.

Ezequias começou a reinar de fato após atingir a maioridade, com vinte e cinco anos de idade, por volta do ano 715 a.C. Seu governo durou vinte e nove anos. Ele foi um homem de fé, cuja vida foi marcada pela confiança em Deus.

O reinado de Ezequias é considerado na Bíblia como um bom governo, sendo que esse rei executou uma série de reformas político-religiosas com as quais procurou reunir o povo todo em torno de um só Deus e de um só rei. O Egito e a Babilônia, interessados em estender sua influência na região, ofereceu auxílio a Judá. A Assíria, então, ameaçou invadir Judá e Ezequias voltou a pagar tributo até o ano de 705 a.C.

Algum tempo depois, uma nova tentativa de escapar do domínio da Assíria levou Senaquerib a invadir Judá. Com isso, as reformas foram interrompidas pela violenta invasão dos assírios, que conquistaram várias cidades e chegaram a cercar Jerusalém. A ajuda oferecida pelo Egito não serviu para nada e a capital só não foi conquistada pelos inimigos por causa de um acontecimento extraordinário que fez com que os exércitos assírios se retirassem.

Dentre as ações de reforma religiosa implantadas por Ezequias, destacam-se a restauração e a purificação do templo, a reintegração dos sacerdotes e levitas ao seu ministério, a restauração da celebração da Páscoa e o combate à idolatria. Contemporâneo de Isaías, Ezequias soube ouvir esse profeta. Entretanto, depois de se recuperar de uma grave enfermidade, ele cometeu um erro que lhe rendeu uma advertência por parte de Isaías. Este erro consistiu em mostrar aos mensageiros do rei da Babilônia todos os seus tesouros. O profeta, então, prevendo o futuro cativeiro dos judeus, advertiu o rei severamente.

Com a morte de Ezequias em cerca de 690 a.C., seu filho Manassés o sucedeu no trono aos doze anos de idade. O reinado de Manassés, que durou quarenta e quatro anos, foi marcado pela opressão externa da Assíria e, internamente, pela opressão por parte da corte de Jerusalém e pela exploração dos camponeses pelos ricos da cidade. Também foi marcado pela volta do paganismo com o culto aos astros, por influência dos assírios, e com a restauração do culto a Baal e a introdução de práticas de magia, adivinhação e encantamentos. Nesse ponto, ele chegou ao extremo de oferecer seus próprios filhos em sacrifício. E mais ainda, porque segundo a tradição, foi durante o governo de Manassés que o profeta Isaías foi morto por ordem do próprio rei, que mandou serrá-lo em pedaços.

O profeta Miquéias exerceu seu ministério durante a época de Manassés. Miquéias nunca se cansou de repreender o povo pelo pecado, exortando as pessoas a buscarem fazer a vontade de Deus. Manassés, contudo, não deu ouvidos às palavras do profeta.

Durante um certo período de tempo, Manassés foi levado e mantido prisioneiro pelos assírios em Babilônia. Enquanto estava preso, ele se arrependeu amargamente de seus atos e resolveu mudar suas atitudes. Quando foi libertado e, tendo retornado a Jerusalém, começou a incentivar o culto a Javé e passou a oferecer os sacrifícios corretos, tendo então mandado retirar todos os objetos de profanação que tinham sido postos no templo.

No plano político e econômico, reconstruiu as muralhas de defesa da capital e favoreceu o desenvolvimento do comércio e da agricultura. Documentos antigos mencionam-no como um fiel colaborador do rei da Assíria. Talvez por essa razão, ele tenha conseguido que os tributos pagos por Judá tenham sido bem menores do que os pagos pelos reinos vizinhos.

Contudo, Manassés é considerado como um dos piores reis de Judá, que fez o oposto do que fizera seu pai. Quando morreu, ele foi sepultado nos jardins de seu palácio, no local chamado Jardim de Oza, e não no mesmo local de seus antepassados. O seu sucessor foi seu filho, chamado Amon.

Nilson Antônio da Silva

26 - Reis - 7ª Parte

Profeta Isaías em meditação
Amasias subiu ao trono de Judá aos vinte e cinco anos de idade, sucedendo seu pai Joás. O reinado de Amasias durou vinte e nove anos. Tão logo assumiu o trono, ele mandou matar todos que assassinaram seu pai. O reinado de Amasias foi marcado por uma guerra contra o reino de Edom, na qual ele saiu vitorioso. Após essa guerra, ele entrou em conflito com o reino de Israel, tendo sido vencido pelo rei Joás de Israel. Joás o levou preso para Jerusalém e tomou para si todo o ouro, prata e objetos valiosos que encontrou no templo e também no palácio real, levando tudo isso para Samaria. Amasias foi morto numa conspiração. Depois disso, seu filho Ozias o sucedeu no trono.

Ozias reinou durante cerca de cinqüenta e cinco anos e foi contemporâneo do profeta Isaías. Ele foi um grande engenheiro militar, tendo planejado e construído armas que projetavam pedras e atiravam lanças, além de construir reservatórios de água e fortificar torres. Também construiu uma cidade chamada Elate. Seu exército se tornou poderoso e famoso. Entretanto, não foi capaz de resistir a uma invasão de Teglat-Falasar e o reino de Israel acabou tendo que pagar tributos ao invasor. No fim de sua vida, Ozias foi contaminado com a lepra, que na época era uma doença incurável. Segundo as escrituras, ele quis queimar o incenso no templo, desrespeitando a lei de Moisés, segundo a qual somente os sacerdotes podiam realizar essa atividade sagrada. Por causa da doença, ele foi isolado num palácio onde morreu afastado do poder real.

Joatão foi o sucessor de Ozias. Seu reinado começou por volta de 758 a.C. e terminou por volta de 742 a.C. Ele também foi contemporâneo do profeta Isaías. Seu reinado foi marcado por obras de reconstrução tanto em Jerusalém como em outras cidades de Judá. As escrituras o consideram um bom rei, embora ele tenha sido omisso no que se refere à presença de idolatria entre o povo.

O sucessor de Joatão foi Acaz, também contemporâneo de Isaías. Acaz é considerado um rei mal, pois ele incentivou a idolatria, fechou o templo de Jerusalém e ainda sacrificou o próprio filho aos deuses pagãos. Seu reinado foi marcado por várias derrotas militares em confrontos com os reinos de Israel e de Aram. Em sua época, os filisteus reconquistaram muitos territórios na região costeira e o reino vassalo de Edom também se rebelou.

Acaz não quis acatar os conselhos do profeta Isaías e pediu proteção à Assíria. O rei assírio Teglat-Falasar foi em seu socorro e derrotou rapidamente os exércitos aliados de Israel e de Aram, ocupando em seguida a cidade de Damasco e se apoderando de vários territórios de Israel. Em seguida, os assírios transformaram todos os reinos da região em seus tributários, inclusive o reino de Judá. Segundo consta em inscrições antigas, ele foi até Damasco prestar homenagens ao rei da Assíria.

Quando Acaz faleceu, ele não foi sepultado junto com os restos mortais dos reis que o antecederam, tendo sido sepultado em outro local de Jerusalém. Este foi um fato que demonstra o quanto o povo o considerava e o que o povo de Judá pensava a respeito de seus atos enquanto ainda vivo.

As advertências de Isaías sobre a proteção da Assíria mesmo hoje em dia ressoam com uma atualidade incontestável. Naquela época, a Assíria era uma grande potência e o reino de Judá era apenas um reino pequeno. O que o profeta afirmou ao rei Acaz é que, após derrotar os reinos vizinhos de Judá, com toda certeza os assírios se voltariam contra Acaz. E foi exatamente o que aconteceu. O único interesse dos assírios era expandirem seus domínios e eles não se importavam com quem havia lhes pedido ajuda ou não.

Nilson Antônio da Silva

terça-feira, 17 de março de 2009

25 - Reis - 6ª Parte - Destruição do Reino de Israel

Ruínas da cidade de Samaria

O rei Jeroboão II de Israel morreu por volta de 750 a.C. e seu filho Zacarias o sucedeu no trono. Entretanto, o reinado de Zacarias durou somente seis meses, tendo ele sido assassinado por Salum, que então ocupou o trono. Um mês depois, este foi assassinado por Manaém o qual permaneceu no trono durante cerca de dez anos. O acontecimento mais marcante de seu governo foi o episódio da revolta ocorrida na cidade de Tersa. Ele conseguiu suprimir a revolta, ao fim da qual matou todos os homens da cidade e deu ordens para rasgar o ventre de todas as mulheres então grávidas. Em seu reinado, o rei assírio Teglat-Falasar III invadiu as terras de Israel e impôs-lhe um pesado tributo de mil talentos de prata. Após sua morte, seu filho Facéias o sucedeu no trono de Israel e reinou durante dois anos, entre 738 a.C. e 736 a.C.

Facéias foi assassinado dentro do palácio real em Samaria por um de seus oficiais, chamado Faceia (filho de Romelias), também chamado de Peca, o qual assumiu o trono. Facéia reinou durante dois anos, tendo sido assassinado por Oséias, que se apossou do trono. Durante o governo de Faceia houve a chamada Guerra siro-efraimita, a qual foi uma coalizão entre o Reino de Israel e o Reino de Aram. Nessa guerra, o rei Rason de Aram e o rei Facéia se aliaram para enfrentar o avanço das forças da Assíria. Eles convidaram o rei Joatão de Judá para participar dessa coalizão, o qual recusou e manteve-se numa posição de neutralidade.

Oséias foi o décimo nono e também o último rei de Israel. Seu reinado durou nove anos, ao fim dos quais ele viu seu reino sendo conquistado por Sargão II, general de Salmanasar IV, rei da Assíria. Uma grande parte dos hebreus que viviam em Israel foram deportados para a Assíria e para a Média. Segundo uma inscrição, foram deportados 27.290 habitantes da Samaria para a Assíria.

A cidade de Samaria foi destruída após um cerco que durou cerca de três anos e, então, o Reino de Israel deixou de existir. Durante o cerco, os habitantes da cidade sofreram de maneira horrível tanto privações físicas quanto psicológicas. O profeta Oséias, que viveu em Israel naquela mesma época, descreveu os sofrimentos pelos quais o povo passou e o profeta Miquéias afirma que a cidade fora reduzida a um amontoado de pedras. Suas terras tornaram-se um lugar de completa desolação. Tudo isso aconteceu no ano 722 a.C.

Enquanto os hebreus estavam exilados, as terras do reino do norte foram povoadas por estrangeiros retirados de Babilônia, de Cuta e de outras regiões do império assírio. Com o passar do tempo, os cutitas reconstruíram em parte a cidade de Samaria. Mais tarde, quando os hebreus voltaram do exílio, muitos se estabeleceram lá novamente, misturando-se com os povos estrangeiros e pagãos que lá habitavam. Contudo, permaneceram monoteístas.

A questão dos estrangeiros terem povoado a Samaria e se misturado aos hebreus deu origem a um sentimento de desprezo que os hebreus de Judá tinham aos habitantes de Israel que permaneceria por séculos a fio. No tempo de Jesus, os judeus evitavam até mesmo passar dentro das terras dos samaritanos e também evitavam qualquer contato com eles. Atualmente, os samaritanos vivem numa pequena comunidade no Monte Garizim, formada por cerca de trezentas pessoas e, anualmente, celebram a Páscoa segundo os antigos ritos. Eles reconhecem como canônicos somente os livros que formam o Pentateuco.

Samaria foi uma cidade grande e luxuosa, muito semelhante a Jerusalém. Ao longo dos tempos, os reis de Israel construíram muitas obras que a tornaram uma cidade muito bela e poderosa. O profeta Amós relata que ela era uma cidade de luxo e efeminação. Além disso, ela sempre foi uma cidade conhecida, e ainda hoje lembrada, como o local de culto ao deus pagão Baal. Por outro lado, também foi o lugar onde o profeta Eliseu exerceu o seu ministério.

Muitos levitas, com a destruição do reino do norte, foram para Jerusalém levando consigo suas experiências e sua teologia, tendo eles sido bem recebidos pelo rei Ezequias. O livro que, mais tarde, seria encontrado no Templo de Jerusalém durante uma reforma, teve sua origem no Reino de Israel e foi levado por eles. Este livro é constituído pelos atuais capítulos 12 a 26 do livro do Deuteronômio.

A destruição do Reino de Israel foi anunciada pelos profetas, os quais lutaram incansavelmente pela conversão do povo. O culto aos deuses pagãos, a violência dos governantes e a exploração do povo foram constantemente denunciadas pelos profetas, que não temeram nem reis nem rainhas e jamais silenciaram a voz diante dos opressores.

Todo pecado traz conseqüências terríveis e a destruição de Samaria deve ser vista como um fim inevitável para os atos de seus governantes. A história dos reis do reino do norte foi marcada por assassinatos, guerras e muito derramamento de sangue. Reis violentos que promoviam a adoração de deuses pagãos e não ouviam a palavra de Deus anunciada pelos profetas foi uma constante na história do Reino de Israel. A justiça foi deixada de lado enquanto Javé era esquecido... E o preço por essas duas atitudes foi o completo aniquilamento.

Nilson Antônio da Silva

24 - Reis - 5ª Parte - O Século VIII a.C.


O oitavo século antes da era cristã foi profundamente marcante na história da humanidade, ainda que muitos dos acontecimentos que se deram naqueles anos realmente só tivessem suas conseqüências manifestadas nos séculos seguintes.

Foi naquele século que, em 722 a.C., a cidade de Roma foi fundada. Nos séculos que se seguiriam, seu poder aumentaria de tal forma que, durante cerca de mil anos, ela comandaria o mundo então conhecido e seus domínios alcançariam terras da Europa, da Ásia e da África.

Foi ainda no oitavo século antes de Cristo que grande parte dos livros que compõem o Antigo Testamento foi redigida ou então compilada. Naquela época também muitos profetas exerceram suas atividades tanto em Israel quanto em Judá.

Entre os anos de 800 a.C. e 700 a.C., tanto a Assíria quanto a Babilônia viveram seu apogeu militar e político, sendo que ambas estenderam seus domínios por extensas regiões do Oriente Médio. Os assírios chegaram inclusive a invadir e dominar Babilônia durante algum tempo.

A Grécia, enquanto realizava seus primeiros jogos olímpicos, ia fundando cidades-colônias pelas margens do Mar Mediterrâneo. Conforme a tradição, foi ainda nessa época que
Homero viveu e escreveu os versos da Ilíada.

No Egito o poder caiu nas mãos de governantes oriundos da Líbia e, mais tarde, a parte sul do país caiu nas mãos de príncipes núbios. Embora não existam muitos registros, ao que tudo indica foi uma época de instabilidade política nas terras dos faraós.

Enquanto isso, nas terras do Extremo Oriente, durante a época do feudalismo na China, naquele país foi desenvolvida a tecnologia de obtenção do ferro. Nas ilhas vizinhas que dariam origem ao Japão, os nativos escolheram seus primeiros imperadores.

Finalmente, foi no século oitavo antes da era cristã que os profetas Isaías e Miquéias profetizaram nas terras de Judá, enquanto nas terras de Israel atuavam Amós e Oséias.

Nilson Antônio da Silva

domingo, 15 de março de 2009

23 - Eliseu


O nome desse profeta que foi discípulo de Elias significa “meu Deus é salvação” em hebraico. Sua atividade profética foi exercida em Israel durante os reinados de Ocozias, Jorão, Jeú e Joacaz. Ele era filho de Safat e vivia em Abel-Meolá, onde Elias o encontrou e o ungiu conforme o Senhor ordenara. Então, ele passou a acompanhar Elias até quando este foi arrebatado ao céu.

Após ter recebido o espírito profético, ou seja, o dom da profecia, começou a profetizar em Israel, realizando muitos atos miraculosos. As Escrituras relatam cerca de vinte milagres realizados por Eliseu, que vão desde a ressurreição de um menino até ao aumento do azeite de uma pobre viúva. Um dos mais conhecidos, senão o mais importante, é o que trata da cura do sírio Naamã, que era general do rei da Síria. Aquele homem, de elevada posição social, havia sido contaminado pela lepra. Naqueles tempos, a lepra era uma doença incurável, a qual excluía a pessoa completamente do convívio social. Naamã, então, ouviu falar a respeito de Eliseu e foi até ele, suplicando-lhe que fosse curado. Eliseu, então, manda que ele se banhe nas águas do rio Jordão. Ao sair do banho, Naamã estava curado. Ele agradece ao profeta e retorna para a sua terra, levando consigo uma porção de terra do solo israelita e afirmando que daquela hora em diante serviria somente ao Deus dos hebreus.

Eliseu exerceu sua atividade durante mais de sessenta anos. Assim, ele acompanhou de perto a sucessão de vários reis e presenciou muitas guerras, invasões e fomes que assolaram Israel. O rei Jeú foi ungido por Eliseu, o qual o apoiou em sua determinação de acabar com o culto pagão ao deus Baal.

Ao longo dos tempos, foram surgindo muitas histórias, lendas e fatos admiráveis em torno da figura de Eliseu, as quais demonstram o quanto ele foi um profeta querido entre o povo. Mais ainda, demonstram o quão grande era sua determinação em servir a Deus e levar o povo a também servir ao Senhor. Ele, desde quando começou a acompanhar Elias, foi um homem cheio de fé e confiança em Javé, a quem dedicou todo o amor com total e absoluta entrega.

Na época em que Joás era o rei de Israel, Eliseu adoeceu e morreu já em idade avançada. Antes de sua morte, Joás foi visitá-lo e lamentou que grande perda seria para Israel a morte do profeta.

Nilson Antônio da Silva

22 - Reis - 4ª Parte

Jeú servindo ao rei Salmanasar

Jeú reinou durante vinte e oito anos em Israel, tendo seu reinado começado em 842 a.C. Ele era um dos generais do então rei Jorão e subiu ao trono após tê-lo assassinado. Durante seu reinado, ele enfrentou o rei Ben-Hadad II da Síria e também o seu sucessor Hazael. Além disso, ele teve que pagar tributos ao rei Salmanasar III, que invadira a Palestina. O reinado de Jeú foi marcado por um cruento banho de sangue. Ele buscou exterminar todos aqueles que tinham ligação com a família de Acab e com o culto a Baal. Também destruiu o templo de Baal e fez desaparecer de Israel o culto a esse deus pagão. Entretanto, ainda manteve os bezerros de ouro em Dã e em Betel.

Javé não quer nenhum tipo de idolatria e nem de opressão. Aos homens, contudo, cabe “a difícil tarefa de escolher os meios para realizar a vontade divina.” Esses meios, muitas vezes, desafiam a nossa compreensão e questionamos a vontade de Deus. Deus é amor; então, por quê tanta violência? Sete longos séculos se passariam até que Jesus viesse àquela mesma terra para mostrar aos seres humanos como Deus é o verdadeiro e mais puro amor. Mais ainda, que Ele não quer a morte, mas tão somente a vida, que é dada por Ele em abundância.

O sucessor de Jeú foi seu filho Joacaz, que reinou cerca de dezesseis anos. Joacaz foi obrigado por Hazael, rei da Síria, a reduzir drasticamente o seu exército. Com a morte de Joacaz, seu filho Joás subiu ao trono em 805 a.C. e reinou durante quinze anos. Joás derrotou Hazael, rei da Síria, três vezes.

Após a morte de Joás, seu filho subiu ao trono com o nome de Jeroboão II, que reinou durante quarenta e um anos. Seu reinado foi marcado por guerras de reconquista, nas quais foi restaurado todo o território deste Hamat até ao Mar Morto.

No reino de Judá, a sucessão de reis também foi marcada por guerras e mortes violentas. Com a morte de Ocozias, Atalia, sua mãe, mandou matar todos os possíveis herdeiros ao trono e assumiu o poder durante seis anos. Ela não foi uma rainha, mas uma regente. Seu governo foi marcado pela promoção ao culto a Baal, o que custou-lhe o ódio tanto do povo quanto dos sacerdotes. Em vingança contra a execução da família de Acab, Atalia mandou executar todos os membros da casa de Davi. Entretanto, o sumo sacerdote Joiada criara escondido no templo de Jerusalém o filho de Ocozias, herdeiro do trono, que lhe fora entregue por Joseba com a idade de um ano. Joseba também era filha de Jorão. O nome do menino era Joás. Quando Joás completou sete anos de idade, Joiada o coroou rei dentro do templo com a proteção e o apoio da guarda real. Ao saber disso, Atalia foi ao templo para impedir a rebelião, mas acabou sendo executada junto aos portões por ordem de Joiada. Após isso, foram destruídos o templo e o altar dedicados a Baal.

Joás de Judá reinou durante quarenta anos em Jerusalém. Ele reformou o templo de Jerusalém e, enquanto governava, o rei Hazael da Síria conquistou Gat e se dirigiu a Jerusalém. Antes que ele atacasse a cidade, Joás entregou-lhe os tesouros do palácio e os tesouros do templo e este, então, retirou-se da capital de Judá.

Nilson Antônio da Silva

21 - Reis - 3ª Parte

Vale de Jezrael

Após a morte de Acab, em 852 a.C., seu filho Ocozias subiu ao trono de Israel e reinou durante dois anos. Durante seu curto reinado, ele manteve práticas de idolatria. Morreu em conseqüência dos ferimentos após ter caído de uma janela. Por não ter deixado filhos, seu sucessor foi seu irmão Jorão.

Jorão reinou durante doze anos e manteve as práticas de idolatria. Entretanto, mandou derrubar a estela de Baal. Estelas eram monumentos usados em cultos pagãos. Durante o seu reinado, o rei Mesa de Moab revoltou-se e deixou de pagar tributos a Israel. Jorão ainda fez aliança com os reinos de Judá e Edom, a qual lutou contra o reino de Moab e o derrotou. Para fazer frente ao rei Ben-Hadad de Aram, ele fez uma aliança com seu sobrinho Jorão, que então reinava em Judá. A guerra contra o rei de Aram não obteve sucesso, sendo que Ben-Hadad chegou a cercar Samaria. Enquanto Jorão de Israel estava se recuperando dos ferimentos de batalha em Jezrael, Jeú, que era seu general, rebelou-se e o assassinou. Jeú ainda perseguiu o rei Ocozias de Judá e o feriu. Além disso, ele mandou assassinar Jezabel, a qual foi empurrada de uma janela em Jezrael. Segundo narram as escrituras, ela foi devorada pelos cães e somente seus ossos foram encontrados. Com a morte de Jorão e o fim de sua família, Jeú ocupou o trono de Israel.

Jorão, filho de Josafá, reinou em Judá durante oito anos, tendo subido ao trono em 851 a.C. Ele se casou com uma mulher da família de Acab chamada Atalia. Durante seu reinado, Edom se libertou de Judá e constituiu seu próprio rei. Após a sua morte, seu filho Ocozias assumiu o trono e reinou por apenas um ano. Durante seu governo, Judá perdeu também o reino de Lebna. Nesse tempo, os reinos de Judá e de Israel estavam aliados numa guerra contra o rei de Aram. Depois que Jeú assassinou Jorão de Israel, pôs-se em perseguição a Ocozias e o feriu. Ocozias, então, refugiou-se na fortaleza de Meguido, onde veio a falecer. O Livro das Crônicas, entretanto, conta que Ocozias foi detido em Jezrael e entregue a Jeú, que então o executou.

A época destes reis foi a época em que o profeta Eliseu exerceu suas atividades. De uma maneira geral, foi uma época de decadência para os dois reinos, os quais perderam uma considerável parte das terras que dominavam e envolveram-se em constantes conflitos com os povos vizinhos.

Nilson Antônio da Silva

20 - Elias


Elias, cujo nome significa “meu Deus é Javé”, é considerado um dos maiores profetas de todos os tempos e também é tido como o profeta que deu início ao profetismo clássico. Sua vida foi uma luta incansável em defesa da fé em Javé contra a imposição de culto ao deus pagão Baal patrocinada pela rainha Jezabel e pelo rei Acab.

Elias era da cidade de Tesbi, que ficava na região de Neftali, uma das tribos que formaram o reino do norte. Essa mesma região seria chamada de Galiléia alguns séculos mais tarde. Toda a sua atividade profética foi exercida no reino de Israel nos tempos dos reis Acab e Ocozias no século IX a.C.

Quando Acab subiu ao trono de Israel, ele já estava casado com Jezabel, filha do rei de Tiro. Esse rei era sacerdote da deusa Astarté. Portanto, sua filha levou para Israel todas as práticas idolátricas e pagãs que eram abominadas pelos hebreus. Jezabel revelou-se uma mulher extremamente dominadora, tendo submetido à sua vontade o rei Acab, a tal ponto que o obrigou a cultuar o deus Baal. Acab chegou a construir um altar para Baal dentro do templo que ele construíra para Javé em Samaria. Além disso, ainda o obrigou a mandar assassinar Nabot para apossar-se de suas terras na região de Jezrael. De uma forma geral, o governo de Acab era muito prejudicial ao povo.

Nesse clima, surgiu Elias, enviado pelo Senhor. Ele anunciou ao rei que Deus faria justiça pela morte de Nabot. O rei, então, arrependeu-se e recebeu o perdão. Entretanto, as palavras pronunciadas contra Jezabel são claras: “Os cães devorarão Jezabel na terra de Jezrael”. Jezabel encheu-se de ira contra Elias e mandou matar os profetas de Javé. Em resposta, Elias anunciou uma seca de três anos e foi se refugiar na cidade de Sarepta, na região de Sidônia. Uma viúva o acolheu e, enquanto ele estava em sua casa, a farinha e o azeite eram constantemente multiplicados pelo profeta. Quando o filho da viúva morreu, Elias o ressuscitou.

O episódio mais marcante da atividade de Elias pode ser considerado o confronto com os sacerdotes de Baal, ocorrido nas encostas do monte Carmelo. Quatrocentos e cinqüenta sacerdotes do deus pagão ofereceram sacrifícios e ficaram a manhã inteira gritando, dançando e se mutilando em honra de Baal, pedindo que descesse fogo do céu e queimasse o sacrifício, sem que nada acontecesse de extraordinário. Depois do meio dia, Elias ofereceu o sacrifício a Javé e, em seguida, molhou o altar e a lenha. Então, orou ao Senhor. Enquanto ele orava, um raio desceu do céu e queimou o sacrifício, a lenha e o altar. Em seguida, o profeta ordenou que todos os sacerdotes de Baal fossem levados até ao riacho Quison. Nesse local, ele degolou a todos eles.

Depois, Elias fugiu para o sul e chegou até ao monte Horeb. No monte, Elias presenciou uma teofania, em que Deus se manifestou a ele e lhe incumbiu de ungir Hazael como rei de Damasco de Aram, Jeú como rei de Israel e Eliseu como profeta. Enquanto estava no monte, veio até Elias um furacão, mas Deus não estava nele. Em seguida, houve um terremoto, mas Deus também não estava no terremoto. Finalmente, veio uma brisa suave e, então, Deus se manifestou a Elias.

Acab morreu em 852 a.C. e seu filho Ocozias o sucedeu no trono. Como seu pai, Ocozias também prestou culto a Baal. Após ter sido ferido numa batalha, mandou consultar ao deus pagão de Acaron, denominado Baal-Zebud, sobre sua recuperação. Elias, então, interveio e anunciou a morte do rei.

No final de sua vida, Elias estava vivendo em Gálgala. Nessa época, Eliseu já o acompanhava e não o deixava por nada. Certo dia, Elias partiu de lá acompanhado por Eliseu. Após passar por Betel e por Jericó, enquanto caminhavam e conversavam, Elias foi arrebatado aos céus numa carruagem de fogo.

Elias não deixou nenhum livro escrito, assim como grande parte dos profetas de seu tempo. Sua história é contada nos dois livros de reis e, ao longo de todas as escrituras tanto do antigo quanto do novo Testamento, seu nome é mencionado várias vezes. O significado de seu nome “meu Deus é Javé” foi o lema, o projeto e o sentido maior de sua vida. Ele escutou e cumpriu a vontade do Senhor. Foi a voz através da qual Javé falou ao seu povo que se via obrigado a seguir uma religião estrangeira. Foi o homem que abriu mão de tudo e dedicou a sua vida a defender a fé no Deus único e verdadeiro. Foi o homem que, fiel a Deus, não hesitou um instante sequer diante das ameaças e perseguições dos líderes das falsas religiões. Permaneceu firme e foi o instrumento de Deus ao desafiar os poderosos e anunciar-lhes que o Senhor faria justiça. Enfim, ele foi o profeta por excelência, que amou a Deus e amou ao seu povo.

Durante a transfiguração no monte Tabor, Jesus conversou com Elias e Moisés. Elias representava aí todos os profetas que Deus enviou ao seu povo.

Nilson Antônio da Silva

19 - Reis - 2ª Parte


O reinado de Ela, filho e sucessor de Baasa, durou apenas dois anos, entre 885 a.C. e 884 a.C. Ele foi assassinado por Zambri, um de seus oficiais, que se auto proclamara o novo rei na cidade de Tersa. Em seguida, Zambri assassinou todos os “que urinam contra o muro”, isto é, todos os homens da família de Baasa também foram mortos. Sete dias depois da auto-proclamação, sem apoio e vendo-se cercado em seu palácio pelo exército, que havia escolhido Amri para ser o rei, Zambri suicidou-se, morrendo queimado após ter ateado fogo na torre onde estava.

Amri reinou durante os doze anos seguintes e seu governo foi marcado por um razoável desenvolvimento e por algumas alianças políticas. Ele casou seu filho Acab com Jezabel, filha do rei da fenícia e, no sexto ano de seu reinado, construiu a cidade de Samaria, que passou a ser a nova capital do reino de Israel. Durante seu reinado, o rei de Mesa, de Moab, pagou a ele tributos. Mesmo assim, as escrituras sagradas o “consideram o pior de todos que vieram antes dele”, principalmente por causa das alianças com os reis estrangeiros. Seu sucessor foi Acab.

Josafá, filho de Asa, reinou em Judá de 870 a.C. a 845 a.C. Ele foi fiel a Deus e procurou andar nos caminhos do Senhor. Seu reinado foi marcado pela prosperidade e pela paz. Seu sucessor foi Jorão, seu filho.

Acab reinou em Israel durante vinte e dois anos, de 873 a.C. a 852 a.C. Jezabel, a filha do rei de Sidônia, com quem ele se casara, patrocinou e incentivou o culto a Baal. Assim, o culto a esse deus pagão prosperou bastante, sendo que muitos profetas e sacerdotes de Javé foram perseguidos e mortos. No campo político, Acab procurou fazer alianças com Ben-Hadad II, rei de Damasco de Aram, na Síria, e também com Josafá, rei de Judá. Ele morreu durante um combate e foi sucedido por seu filho Ocozias. Atália, sua filha, casou-se com Jorão, rei de Judá, que era filho de Josafá. Com isso, procurou-se dar fim aos constantes conflitos entre os dois reinos e ainda estabelecer uma união entre as dinastias que governavam ambos.

No tempo do rei Acab nasceu o profetismo clássico, com o surgimento de Elias e Eliseu. Acab é considerado um dos piores reis que houve em Israel. Jezabel, sua esposa, é considerada pelas escrituras como aquela que conduziu o povo de Deus ao pecado da idolatria. Essa princesa fenícia, além do apoio ao culto do deus Baal, era uma mulher muito influente na política de seu tempo. Ora, o próprio fato de ela dar tanto apoio a uma religião estrangeira em detrimento da fé javista demonstra o quanto sua influência era considerável. Suas atitudes foram severamente criticadas e combatidas pelo profeta Elias.

Nilson Antônio da Silva

18 - Reis - 1ª Parte


Roboão foi sucedido por seu filho Abiam, Aviyam em hebraico, que reinou em Jerusalém durante o curto período de três anos, entre 914 a.C. e 911 a.C. O hagiógrafo afirma que este curto reinado foi castigo pelos pecados cometidos pelo rei. Abiam entrou em guerra contra Jeroboão e saiu vencedor, tendo conquistado algumas cidades do reino de Israel. Ele teve vinte e dois filhos e dezesseis filhas nascidos das quatorze esposas com quem foi casado. Um desses filhos, chamado Asa, foi seu sucessor.

Asa reinou durante quarenta e um anos em Judá e as escrituras sagradas elogiaram suas atitudes em defesa da fé em Javé. Seu reinado começou em 911 a.C. e terminou em 870 a.C. Ouvindo os conselhos do profeta Azarias, ele combateu as práticas pagãs de idolatria e conduziu o povo à observância aos mandamentos da lei de Deus. Um de seus principais atos foi acabar com a prática chamada de prostituição sagrada, que era típica entre os povos cananeus. Entretanto, não destruiu os chamados lugares altos. Esses eram locais de culto a deuses pagãos. Na área militar e política, ele venceu os exércitos de um general etíope que tentou invadir Judá. Após um longo período de paz de seu reinado, ele fez uma aliança com Ben-Hadad, rei da Síria, o qual já havia firmado aliança com Baasa, rei de Israel. Asa procurava, através da aliança com o rei da Síria, evitar a guerra contra o reino de Israel. O rei sírio rompeu a aliança firmada anteriormente com Baasa. O profeta Hanani condenou essa aliança e Asa se enfureceu com ele, terminando por prendê-lo. Por essa época, o rei já não agia mais conforme a vontade do Senhor e, após dois anos enfermo, ele morreu. Contudo, de uma maneira geral Asa é considerado um dos melhores reis de Judá. Seu sucessor foi Josafá.

A situação dos reis de Israel não era muito diferente. Nadab, Nadav em hebraico, reinou somente durante dois anos, por volta de 910 a.C. e 909 a.C. Seu reinado, embora curto, foi marcado por muitos pecados. Ele foi morto por Baasa, da tribo de Issacar, durante uma conspiração, o qual também eliminou toda a sua família. Com isso, a família de Efraim foi extinta.

Baasa, nome que significa “aquele que ouve Baal”, subiu ao trono de Israel após ter assassinado Nadab. Seu reinado durou vinte e quatro anos, tendo começado em 908 a.C. e se estendendo até 885 a.C. Foi um reinado marcado por guerras e pecados de idolatria. O seu sucessor foi seu filho Ela. Durante seu reinado, a capital de Israel foi a cidade de Tersa. A propósito, Baal era um deus pagão cultuado em Canaan. “Todo membro da família de Baasa que morrer na cidade, será comido pelos cães; o que morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu” foram algumas das palavras que Deus falou a Baasa pela boca do profeta Jeú.

Nilson Antônio da Silva

sexta-feira, 13 de março de 2009

17 - Roboão e Jeroboão


Quando Salomão morreu, em 931 a.C., ocorreu um cisma em Israel culminando com a divisão do reino em dois novos reinos. As tribos de Judá e Benjamin, situadas no sul, deram origem ao Reino de Judá. Já as demais tribos, situadas ao norte, deram origem ao Reino de Israel.

Roboão, filho de Salomão, tornou-se o rei de Judá, tendo subido ao trono aos quarenta e um anos de idade, logo após a morte de seu pai. Depois de sua proclamação como sucessor de Salomão, ele foi a Siquém para obter o apoio e o reconhecimento das tribos do norte como rei de Israel. Porém, em Siquém os israelitas afirmaram que só o reconheceriam caso ele retirasse os pesados tributos que haviam sido impostos ao povo por seu pai.

Entretanto, mesmo tendo ouvido os conselhos dos anciãos, que relembram-lhe que a função da autoridade é servir ao povo, ele recusou-se a aceitar a reivindicação do povo e reduzir os tributos. Assim, ele preferir dar ouvidos aos jovens da corte, que o aconselharam a aumentar a opressão e a exploração para não perder a autoridade sobre o povo. Tendo seguido este último conselho, o rei perdeu o povo. Então, houve a divisão do reino. Jerusalém continuou sendo a capital, mas apenas do Reino de Judá, e Siquém passou a ser a capital do Reino de Israel. Posteriormente, Jeroboão faria de Penuel a sua capital. Mais tarde, a capital seria transferida para a cidade de Samaria.

Para controlar a rebelião das tribos do norte, Roboão quis enviar um grande exército para dominá-las. O profeta Semeías, entretanto, interveio e o aconselhou a não realizar essa expedição militar, afirmando-lhe que a divisão do reino foi um fato da vontade de Deus. E ele escutou as palavras do profeta.

No sexto ano de seu reinado, o faraó Sesac (
Sheshonq I) invadiu as terrras de Israel e obrigou Roboão a pagar altos tributos ao Egito.

O reinado de Roboão durou dezessete anos e ele foi sucedido por seu filho Abias, também chamado de Abiam.

Enquanto Roboão reinou em Judá, Jeroboão reinou em Israel. Jeroboão era da tribo de Efraim. Ele havia servido ao rei Salomão durante algum tempo mas, após provocar uma revolta frustrada, teve que se exilar no Egito. Quando Salomão morreu, ele retornou a Israel e, após manobras políticas, acabou sendo proclamado rei pelas dez tribos do norte, que se sentiam subjugadas pelo governo de Jerusalém. No quinto ano de seu reinado, os exércitos de Sesac invadiram seu reino, obrigando-o a também pagar tributos ao Egito.

Um dos atos cometidos por Jeroboão que mais receberam a condenação feroz dos profetas foi a sua decisão de construir dois santuários, um em Dan e outro em Betel, nos quais ele colocou dois bezerros de ouro. Ele havia construído esses santuários para evitar que o povo fosse a Jerusalém para adorar a Deus no templo, pois ele pensava que isso tivesse como conseqüência a reunificação dos dois reinos. Por causa disso, ele proibiu o povo de ir a Jerusalém prestar culto a Deus. Finalmente, ele pôs sacerdotes nos templos que construíra que não pertenciam à tribo de Levi e, portanto, não poderiam ser sacerdotes. Dessa forma, o povo foi levado ao culto dos ídolos. Pela boca do profeta Aías, a palavra de Deus dirigida a Jeroboão foi clara: "Exterminarei a tua casa porque me rejeitaste". Faz-se necessário lembrar que também Roboão instituiu práticas idolátricas em Judá.

O reinado de Jeroboão durou vinte e dois anos e seu sucessor foi Nadab, seu filho.

Após a invasão de Sesac, os dois reinos entraram em franca decadência, e toda a glória dos tempos de Salomão foi perdida. Para completar, ambos foram marcados por guerras contínuas entre Roboão e Jeroboão.

A partir dessa época, começou uma longa e dolorosa história de sofrimentos para o povo, que via seus reis cometerem práticas idolátricas e pecarem contra a palavra de Deus. Como sempre, o povo sofria as conseqüências. Mas Deus, cheio de misericórdia, não deixou o povo desamparado. Foi nessa época que o Senhor enviou inúmeros profetas para consolar e aconselhar o povo e, principalmente, para criticar e condenar as atitudes erradas dos reis. Eles pregavam a penitência, anunciavam castigos caso o povo não se convertesse e prediziam muitos passos da vida do futuro Salvador, o Messias. Para confirmar suas palavras, Deus concedia-lhes o dom de realizarem muitos milagres.

O rei deve ser fiel a Deus, conforme está escrito no versículo 3 do segundo capítulo de Reis: “Guarda os preceitos do Senhor, teu Deus; anda em seus caminhos, observa suas leis, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, tais como estão escritos na lei de Moisés. Desse modo serás bem-sucedido em tudo o que fizeres e em tudo o que empreenderes” Somente assim ele é capaz de governar com sabedoria e com justiça, isto é, realmente servirá o povo, o qual pertence a Deus. Entretanto, aconteceu exatamente o contrário, pois os reis foram sempre infiéis. Eles fizeram tudo “o que Javé reprova”, ou seja, praticaram a idolatria, entregaram a nação aos estrangeiros, perseguiram os profetas e, finalmente, oprimiram e exploraram o povo. A conseqüência imediata de tudo isso foi uma só: Israel e Judá são levados à completa ruína.

A respeito das datas que marcam os acontecimentos da história de Israel e Judá, é necessário esclarecer que não existe consenso entre os historiadores. Na antiguidade os calendários eram diferentes do nosso calendário e, portanto, as datas não correspondem umas às outras e nem o tempo marcado em anos ou meses corresponde exatamente ao período de tempo que marcamos no atual calendário gregoriano. É muito difícil estabelecer uma data a partir da qual possa ser feita toda a cronologia dos fatos históricos. De qualquer maneira, hoje em dia a maior parte dos historiadores segue as cronologias de
William F. Albright, Edwin R. Thiele ou de Gershon Galil para datar a história do Reino de Israel e do Reino de Judá.

Nilson Antônio da Silva

16 - Salomão


Salomão era filho de Davi e de Betsabé e, após várias disputas políticas, subiu ao trono como sucessor de seu pai, tornando-se o terceiro rei de Israel. Seu reinado durou quarenta anos, tendo início, aproximadamente, em 975 a.C. e terminando, aproximadamente, em 931 a.C. Pela linha de sucessão, o trono deveria ser ocupado por Adonias. Entretanto, os profetas afirmavam que o trono deveria ser ocupado por Salomão, pois fora ele o escolhido por Deus. Este fato gerou várias intrigas e conspirações na corte de Davi. E foi somente com as ações firmes empreendidas por sua mãe, pelo sacerdote Sadoc e pelo profeta Natan que o direito ao trono foi assegurado a Salomão. O próprio Davi, já idoso, aprovou Salomão como seu sucessor. Tendo se tornado rei, Salomão tratou de eliminar todos os seus adversários bem depressa para, então, poder consolidar o seu reinado. Na Antiguidade, eliminar os adversários políticos era algo bem freqüente e comum.

No décimo ano de seu reinado, ele começou a construção do Templo de Jerusalém, obra que exigiu a força de trabalho de um enorme número de israelitas durante sete anos. Quando o templo ficou pronto, Salomão convocou os principais líderes do povo e todo o povo e ordenou o translado da arca da Aliança para o templo. No dia do cortejo, que foi feito com grande pompa, em que todos os sacerdotes e levitas cantavam salmos e o povo festejava, foi imolado um imenso número de ovelhas e bois em sacrifício. A arca foi colocada no local chamado de Santo dos Santos, sendo que aí somente uma vez por ano era permitida a entrada do sumo sacerdote. O templo era muito grande e muito bonito, conforme contam as Sagradas Escrituras. Com o passar do tempo, ele se tornou o referencial maior para o povo de Israel.

Além de tudo isso, Salomão executou várias outras obras, como o palácio real e suas dependências e ainda fortificou as muralhas de Jerusalém e ergueu torres de vigia em diversos pontos. Todas essas obras demandaram elevados recursos os quais, mais tarde, iriam refletir em impostos para o povo.

Salomão se tornou conhecido por sua sabedoria, bem como por ter tido um reinado longo e pacífico. Outro ponto marcante de seu reinado foi a prosperidade que ocorreu em seus dias e as abundantes riquezas. O comércio foi impulsionado, sendo que os israelitas estabeleceram laços comerciais com diversos povos vizinhos. No Golfo de Ácaba, ele mantinha uma frota de navios comerciais muito bem equipada. Conforme narra a Escritura, os cedros utilizados na construção do templo foram importados do Líbano. Apesar de seu reinado ter sido pacífico, ele manteve seus exércitos bem equipados, principalmente com carros e cavalos de guerra.


Ao contrário de seu pai, Salomão não foi e nem precisou ser um grande líder guerreiro. A extensão territorial herdada de Davi foi mantida durante seu reinado. Assim, ele se dedicou a desenvolver as atividades comerciais e também industriais e a melhorar o sistema administrativo, bem como estabelecer e fortalecer as relações diplomáticas com os povos vizinhos. Foi uma dessas alianças políticas que o levou a se casar com a filha do faraó.

No Livro de Reis, é mencionado que ele possuía setecentas mulheres e trezentas concubinas. Naqueles tempos antigos, e ainda mais no oriente, isso era considerado normal e aceito por todos. Por outro lado, de tempos em tempos surgia algum profeta contrário a essas práticas e as condenavam veementemente. E foi devido a esses excessos, os quais conduziram o rei a práticas de idolatria que, já no fim de sua vida, Deus falou-lhe que seu reino seria dividido. E assim aconteceu.

Ao longo dos séculos, várias histórias lendárias sobre a vida de Salomão foram surgindo e sendo contadas pelo povo através das gerações. De todas elas, uma das mais conhecidas é a que narra como o sábio rei julgou a disputa de uma criança por duas mulheres que afirmavam cada uma ser a verdadeira mãe do bebê. Ele ordenou que a criança fosse partida ao meio e cada metade fosse entregue a cada uma das mulheres. Ao ouvir isso, uma mulher gritou desesperada que ele não partisse a criança, mas que a entregasse à outra mulher. Dessa forma, a verdadeira mãe se tornou conhecida, pois somente esta seria capaz de ver seu filho entregue a outra pessoa, vivo, do que vê-lo morto. Outra história trata da visita da rainha de Sabá, um reino que existia na Arábia, a Jerusalém para conhecer a sabedoria do rei Salomão.

O ponto central da história de Salomão está no sonho que ele teve, quando o Senhor apareceu-lhe e disse: "Pede-me o que quiseres e eu te darei". A resposta de Salomão foi: "Senhor, meu Deus, fizeste-me rei, a mim vosso servo! Sou ainda muito novo e inexperiente e o vosso povo é numeroso. Dai-me um coração dócil para que eu saiba governar". Então, o Senhor disse-lhe: "Não me pedes longos dias, nem riquezas, mas sabedoria para bem julgar. Vou atender o teu desejo. Dou-te sabedoria e inteligência como ninguém a teve, nem jamais terá. Dou-te também o que não me pediste: riquezas e glória. E se tu guardares os meus preceitos, como os guardou teu pai Davi, dar-te-ei longos anos de vida".

Nilson Antônio da Silva

15 - Davi


Davi, o mais novo dos oito filhos de Jessé, foi ungido por Samuel para ser o rei de Israel, conforme Deus ordenara ao profeta. Jessé era um homem de vida simples e, portanto, Davi teve uma origem humilde. Conforme narram as Sagradas Escrituras, ele possuía um semblante formoso, tinha cabelos ruivos e era muito gentil. Na língua hebraica, seu nome significa “amado”, “querido”.

Após a unção, Davi foi viver na corte de Saul, exercendo a função de músico. Ele era um hábil tocador de harpa e, assim, foi chamado para suavizar a melancolia que devorava o rei hebreu. Durante uma disputa com os filisteus, Davi conseguiu matar o maior soldado daquele povo usando apenas uma atiradeira. Depois deste acontecimento, ele foi colocado na liderança de várias expedições militares, das quais sempre retornava vitorioso. Jônatas, o provável herdeiro do trono, e Davi se tornaram grandes amigos, o que foi fundamental para que, mais tarde, este último conseguisse o apoio necessário para se tornar o rei de todo o povo de Deus.

Com o passar do tempo, começou a surgir inimizade entre Saul e Davi, sendo que ele acabou sendo expulso da corte e passou a ser perseguido pelo rei. Enquanto isso, Saul entrou em franca decadência e, após sua morte, Davi conseguiu se tornar rei de fato.

Ele passou a governar a tribo de Judá e Isboset, que era filho de Saul, governou as outras tribos pelo curto período de dois anos. Este havia sido proclamado rei de Israel por Abner, o capitão do exército de Saul. Durante esse tempo em que os dois estavam reinando em Israel, o povo se viu mergulhado numa verdadeira guerra civil, a qual só terminou após diversas batalhas e manobras políticas, cujo fim realmente se efetivou com a morte de Isboset. Então, Davi foi escolhido para governar todo o Israel.

Inicialmente, ele teve de enfrentar as constantes invasões dos filisteus e ainda conseguir o reconhecimento e apoio de todas as tribos de Israel. Ele conseguiu unificar, a pedido do povo e através de seu consentimento e sem imposição, todas as tribos sob seu governo. Depois disso, ele fez uma aliança com os sacerdotes de Jerusalém e fez dela a capital de Israel, que anteriormente era a cidade de Hebron. É interessante notar que Jerusalém ainda não pertencia a Israel, portanto sua escolha evitou possíveis ciúmes entre as tribos.

Por esse tempo, Davi começou a consolidar o reino de Israel e a conquistar ainda mais as terras dos filisteus, encurralando este povo cada vez mais junto à costa do Mar Mediterrâneo. Já em idade avançada, Davi quis construir um templo para o Senhor em Jerusalém, cidade para a qual ele já havia levado a Arca da Aliança. Porém, este templo seria construído por Salomão, seu filho e sucessor.

Davi governou Israel por quarenta anos. Ele é considerado o rei ideal, ou seja, aquele que obedece a Deus e serve ao povo. Sem dúvida, foi um político hábil, que conseguiu a simpatia do povo, estando ao seu lado para protegê-lo, defendê-lo e guiá-lo. A história vê em Davi o modelo da autoridade política justa.

Além disso, ele foi um grande poeta, tendo escrito vários salmos, e foi também de uma grande popularidade em seu tempo e durante os séculos que se seguiram. Quando se lê a sua história, é possível observar o quanto ele fez de coisas boas e também o quanto aprontou com atos nada éticos e muito menos heróicos. Sua vida foi marcada por incidentes dos mais inimagináveis possíveis, numa surpreendente sucessão de contradições de comportamento difícil de entender pelos nossos padrões sociais. Nele podiam se encontrar paixão e altivez, generosidade e ternura, determinação e coragem e, tudo isto, numa mistura que parece à primeira vista das mais explosivas. Entretanto, foi desta complexidade que brotaram as qualidades de estadista, soldado, poeta, sacerdote, profeta e rei.

Na história de sua vida podemos ver claramente o desenrolar da aventura humana, ou seja, todas as fraquezas e forças que permeiam a nossa vida, com seus momentos de alegria, dor, fidelidade e queda. Seu nome é citado em vários livros da Bíblia mas, para conhecer melhor sua história, é só ler os livros de Samuel, os quais narram detalhadamente o período de transição do modelo de governo tribal para o governo monárquico.

Finalmente, é preciso ressaltar que o ponto mais importante de sua história é a profecia de Natã, onde o profeta anuncia que o trono de Jerusalém sempre será ocupado por um messias (rei ungido) da família de Davi. Esta profecia teve seu pleno cumprimento em Jesus, o Messias. Os Evangelhos, ao apresentarem Jesus como descendente de Davi, mostram que ele é o Messias esperado, que veio ao mundo para reunir todos os homens e levá-los à vida plena e eterna.

Nilson Antônio da Silva

14 - Samuel


Samuel, o último dos juízes israelitas e o primeiro profeta registrado na história do povo de Deus, viveu em um momento muito importante da história de Israel, entre 1040 e 971 antes de Cristo, época em que o povo passou do sistema de governo tribal para o sistema monárquico. Esta mudança trouxe conseqüências imensas, principalmente refletidas na cobrança de impostos para sustentar o poder real e, além de tudo, com o uso da religião como forma de sustentar a ideologia do Estado, o qual passa a controlar a economia e a política.

Samuel era filho de Elcana e de Ana, da tribo de Efraim. Em agradecimento a Deus, sua mãe o entregou aos cuidados do sacerdote Eli para que o menino permanecesse servindo no santuário de Silo. Neste santuário, Deus se revelou a Samuel e fez dele um profeta. A fama de Samuel se espalhou e, além de profeta, ele foi o último dos juízes de Israel.

Nessa época, surgiram diversos conflitos com os filisteus, que passaram a invadir as terras dos israelitas e, inclusive, chegaram a tomar a Arca da Aliança. Tudo isso foi causa de constantes batalhas com aquele povo. Além do mais, os israelitas dependiam muito dos filisteus, os quais dominavam a tecnologia do ferro e da fabricação de armas e de instrumentos agrícolas.

Quando Samuel já estava em idade avançada, o povo de Israel pediu a ele que lhes desse um rei para governá-lo. A princípio relutando, Samuel concordou e escolheu Saul para ser o primeiro rei de Israel. Saul foi um homem corajoso mas, com o tempo, cometeu muitos erros e desobedeceu a Deus. Um erro grave que ele cometeu foi a usurpação de uma função própria de Samuel, quando ofereceu o sacrifício a Deus. Esta função era própria do sacerdote e não do rei. A partir daí, a autoridade de Saul começa a declinar. Então, Samuel escolheu Davi para ser o novo rei de Israel.

É interessante notar que o Livro de Samuel traz duas versões distintas do surgimento da autoridade política central: a primeira versão é contrária e hostil à monarquia, pois representa a visão mais democrática das tribos do Norte; a segunda versão é favorável à monarquia, e representa a visão da tribo de Judá, que vivia nas terras menos produtivas do sul. Analisando as duas versões, é possível concluir que a autoridade é um mal necessário e, ao mesmo tempo, um dom de Deus. Assim, o Livro de Samuel oferece uma visão muito crítica da autoridade política, ao mesmo tempo em que mostra que somente Deus é o único rei sobre o seu povo. Ou seja, a autoridade do rei humano somente tem legitimidade quando este se torna um representante de Deus, isto é, se torna aquele que serve a Deus através do serviço ao povo. Neste sentido, a boa autoridade é aquela que reúne, lidera e protege o povo, ao mesmo tempo em que o organiza e promove a vida social respeitando a justiça e o direito. Portanto, “qualquer autoridade que não obedece a Deus e não serve ao povo é ilegítima e má, pois acaba ocupando o lugar de Deus para explorar e oprimir o povo.”

Samuel foi um homem cuja vida foi marcada por uma profunda piedade e por um elevado discernimento espiritual. A realização dos propósitos de Deus para o bem do povo de Israel foi o objetivo e razão maior de sua vida.

Ao que parece, o livro de Samuel foi escrito no início do período monárquico, dadas as afirmações as quais demonstram estar bem próximas da época em que o juiz e profeta viveu. Tradicionalmente, a autoria de seus dois livros é atribuída ao próprio Samuel.

Leia o Primeiro Livro de Samuel e observe com atenção como Deus instruiu seu povo a respeito da autoridade e como o povo fez suas escolhas.

Nilson Antônio da Silva

13 - Rute


A história narrada no Livro de Rute, que foi escrito em Judá em meados do século V antes de Cristo, se passa no tempo dos Juízes, numa época em que uma grande fome assolou o país inteiro. Segundo Josefo, um historiador judeu do primeiro século da era cristã, a história se passa na época do sacerdote Eli. Entretanto, não há evidências o suficiente para sustentar essa afirmação.

Naquele tempo, um homem chamado Elimelec foi com Noemi, sua esposa, e seus dois filhos morar no país de Moab. Lá os filhos se casaram com moças moabitas, uma das quais chamada Rute. Passados alguns anos, Noemi ficou viúva e, algum tempo depois, seus filhos também morreram. Então, ela e Rute decidem retornar a Israel. Já em casa, começam a passar por necessidades, visto a pobreza em que ficaram. Então, Rute foi trabalhar recolhendo restolhos de trigo das colheitas nas terras de Booz, um parente de Noemi. Devido a um direito previsto nas leis da época, Booz se casou com Rute algum tempo depois. Do casamento, nasceu um menino chamado Obed, que foi o avô de Davi. Assim, Rute se torna antepassada de Jesus, sendo que o Evangelho de Mateus menciona seu nome em sua genealogia.

A história de Rute é marcada pela coragem e pela caridade, pela luta e pela perseverança. Nem Rute e nem Noemi desanimam diante das fatalidades e dificuldades da vida. Ao contrário, lutam pela sobrevivência e pela busca de um futuro melhor, apesar de tudo. É marcante ainda a solidariedade e a caridade com que Booz a acolhe e deixa seu coração encher-se de compaixão por ela. Num ato gratuito de acolhimento, ele põe suas capacidades a serviço da luta pelos mais pobres e necessitados. Outro ponto importante é que Deus sempre age através dos mais humildes e pequeninos, manifestando neles e por eles a sua justiça e a sua misericórdia. Davi, que foi o grande rei de Israel, teve uma origem humilde. E Jesus, o maior de todos os reis, também escolheu nascer de uma família humilde.

Também é interessante observar que o Livro de Rute aborda a Lei na perspectiva do serviço à vida e não se ocupa nem se preocupa com o santuário, com o culto e os sacrifícios. Jerusalém nem sequer entra na história e Belém, “a menor entre as cidades de Judá”, é o lugar central onde se desenvolvem os acontecimentos. Alguns séculos mais tarde, naquela pequena cidade nasceria o Filho de Deus feito homem!

Outra observação diz respeito à atitude de extremo nacionalismo presente nos Livros de Esdras e Neemias, nos quais há a proibição de casamento de judeus com mulheres estrangeiras e inclusive a dispensa das mulheres não israelitas já casadas com judeus. Essa proibição fundamentava-se na necessidade e na busca da preservação da identidade e da fé do povo judeu quando este retornou do exílio na Babilônia. Dentro do contexto histórico da época, é possível compreender esta atitude. O Livro de Rute, entretanto, afirma que esta não é a solução, uma vez que se trata da discriminação contra as mulheres estrangeiras. Então, mostra que a melhor solução é a integração delas ao povo eleito.

Quando o Livro de Rute foi escrito, os israelitas haviam retornado do exílio na Babilônia e passavam por um tempo muito difícil, que exigia sérias reformas e o recomeço de tudo para poderem retomar a sua vida normal. Assim, a história de Rute servia como um ponto de apoio e um exemplo que podiam seguir em suas vidas. Este livro, que tem apenas quatro capítulos, está entre o Livro dos Juízes e o Primeiro Livro de Samuel. Vale a pena ler e meditar esta pequena e tão bela história!

Nilson Antônio da Silva

quinta-feira, 12 de março de 2009

12 - Os Juízes


A história dos Juizes está situada entre 1200 a 1020 antes de Cristo. Os juízes governaram o povo hebreu desde a época da morte de Josué até o início da monarquia. Foi um tempo cheio de dificuldades, com a continuação da conquista da Terra Prometida. Durante todo esse tempo, as tribos são governadas por chefes que tem um cargo vitalício, geralmente chamados de juízes menores. Quando surgem grandes dificuldades, aparecem chefes carismáticos, chamados de juízes maiores, os quais unem e lideram as tribos na luta contra os inimigos.

Canaan, a Terra Prometida, é uma região de contrastes, com montanhas geladas ao norte e, mais ao sul, praias mediterrâneas com temperaturas bem mais elevadas e extensos desertos que se perdem rumo ao Egito. Já as proximidades do Mar Morto se encontram numa depressão de cerca de quatrocentos metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo. O Mar Morto atualmente possui uma área de 1050 quilômetros quadrados, pouco menor do que o município de Santo Antônio do Monte. Na antiguidade, entretanto, ele era um mar bem mais extenso. Somente nos últimos cinqüenta anos, foi constatada a perda de mais de um terço de sua superfície. Nos tempos do Antigo Testamento, ele foi chamado de Mar Salgado, de Mar Oriental e também de Mar de Arabá. Já o Mar da Galiléia, que é alimentado pelas águas do Rio Jordão, possui cerca de treze quilômetros de largura e atinge até dezenove quilômetros de comprimento. Este mar, na realidade, é um imenso lago de água doce. Ele também está há mais de duzentos metros abaixo do nível do mar. Em suas proximidades encontram-se terras férteis que formam belas paisagens.

Mais ao norte das terras de Canaan, fica uma região repleta de colinas e de montes mais elevados. Um planalto inabitável, hoje chamado de Colinas de Golan, fica nesse local, sendo formado por montanhas que permanecem cobertas de neve constantemente. Nas terras mais baixas, como nas proximidades do Mar da Galiléia, o clima é úmido e aí ocorrem muitas chuvas. Em contraste, as terras do sul são mais secas, em alguns pontos extremamente áridas, embora também sejam montanhosas. Nas terras que futuramente seriam a Samaria e parte da Judéia, existe um verdadeiro mosaico de colinas entremeadas por vales férteis, propícios ao cultivo de vários tipos de plantas, especialmente oliveiras. A vegetação nativa era constituída de florestas em alguns locais, nas quais podiam ser encontrados desde carvalhos até madressilvas e plátanos nas margens dos córregos. Já as tamareiras podiam ser encontradas em quase toda parte! Vários tipos de flores silvestres podiam ser admiradas nas colinas e planícies, como ciclames e margaridas, nas quais mais de cem variedades de borboletas brincavam nos dias de primavera! Pássaros diversos, como rouxinóis, falcões, gaviões e até mesmo pintassilgos, são típicos dos céus de Canaan. Pelas colinas e bosques podiam ser encontradas gazelas e raposas, gatos do mato e cabras selvagens, dentre outros vários animais.

É interessante observar que, nas terras de Canaan, em poucos minutos é possível passar de campos férteis e úmidos a desertos secos e desolados, ou então de montanhas e colinas a planícies e vales verdejantes. Naturalmente, naqueles tempos em que os únicos meios de transporte eram a pé ou a cavalo, isso não podia ser feito em poucos minutos, mas em horas e dias!

Os hebreus, ao chegar à Terra Prometida, encontraram ainda um clima que variava entre o temperado e o tropical, com a ocorrência de um inverno chuvoso, de novembro a maio, e de um verão seco nos meses restantes. Dependendo do local, é claro, as diferenças são bem marcantes no que se refere à quantidade de chuvas, de calor ou de frio.

E foi naquelas terras distantes, tão diferentes das paisagens brasileiras a que estamos acostumados, que o povo de Deus chegou para se estabelecer e lutar arduamente na construção de sua nação.

A grande dificuldade enfrentada pelos juízes no governo do povo era a infidelidade a Deus por parte deste mesmo povo, que muitas vezes se voltava para o culto aos deuses pagãos. Os povos que viviam naquelas terras, desde tempos imemoriais, tinham seus próprios deuses e a eles prestavam cultos muitas vezes cruentos, isto é, com sacrifícios de crianças. O povo de Deus, muitas vezes, rebelou-se e começou a prestar culto àqueles deuses, numa atitude de infidelidade aos mandamentos do Senhor. Outra dificuldade para os hebreus era enfrentar e vencer os povos cananeus que ainda resistiam.

Os juízes menores são: Samgar, Tola, Jair, Abesã, Elon e Abdon. Os juízes maiores são: Otoniel, Aod, Débora e Barac, Gedeão, Jefté e Sansão. Dos mais conhecidos, destacamos as seguintes histórias:

Débora conseguiu a vitória sobre os reis cananeus que habitavam as terras centrais e, assim, possibilitou a união entre as tribos do norte e as do sul. Gedeão, que a princípio relutou em assumir a liderança dos hebreus, tentou reorganizar o povo e conseguiu vencer os reis de Madiã. Sansão lutou contra os filisteus, que haviam se estabelecido na região costeira e se tornaram uma ameaça séria ao sistema tribal. Em meio a uma história de amor por Dalila, Sansão foi entregue aos filisteus e acabou sendo morto.

O tempo dos juízes termina com o início das atividades do profeta Samuel, considerado o último dos Juízes. Foi com Samuel que começou a monarquia em Israel. Segundo alguns estudiosos, talvez o livro dos Juízes tenha sido escrito pelo próprio Samuel; já outros afirmam que este livro foi escrito durante o exílio na Babilônia e que seu autor é desconhecido.

Para conhecer mais detalhes, leia o Livro dos Juízes.

Nilson Antônio da Silva

11 - Josué


Por volta de mil e trezentos anos antes de Cristo, os hebreus chegaram a Canaã liderados por Moisés. Após sua morte, a liderança do povo foi dada por Deus a Josué, a quem coube conduzir os hebreus na conquista e na partilha da Terra Prometida. A conquista de Canaã foi um processo lento e longo, às vezes pacífico, outras vezes violento, que durou cerca de dois séculos e somente terminou nos tempos do rei Davi.

Josué significa “Javé Salva” ou “Javé é a Salvação”. Na transliteração para a forma latina, deu origem ao nome Jesus. Josué era filho de Num, da tribo de Efraim.

Quando os hebreus chegaram a Canaã, encontraram uma terra já habitada por diversos povos que viviam em cidades que tinham total autonomia política e econômica e, muitas vezes, viviam envolvidas em constantes conflitos entre si. Cada uma tinha seu próprio rei e cada uma era independente em relação às outras. Assim, os hebreus tiveram que lutar para conquistar todas essas cidades ou, então, tiveram que fazer alianças com as mesmas para se estabelecerem na Terra Prometida. As famílias dos filhos de Jacó receberam cada uma um determinado território o qual teve que ser conquistado de outros povos que já viviam nele.

O santuário de Guilgal, nas proximidades de Jericó, é o local onde primeiramente se desenvolvem os principais acontecimentos da história de Josué. Em seguida, é apresentada a descrição da partilha da terra entre as famílias e, finalmente, o livro traz o último discurso de Josué e sua morte e a aliança que foi feita em Siquém. Essa aliança foi um compromisso do povo hebreu em servir somente ao Deus Vivo e não se envolver com as práticas idolátricas, exploratórias e imorais dos povos que habitavam em Canaã.

O mais importante da história de Josué é o fato de que Deus deu a Terra Prometida ao povo hebreu, mas este mesmo povo teve que conquistar a terra dada pelo Senhor. Deus deu a terra, mas não suprimiu a iniciativa e a liberdade do povo para conquistá-la. A Terra Prometida foi o fruto da promessa feita a Abraão e foi dom de Deus, mas também foi o fruto da luta e da conquista do povo hebreu. Em outras palavras, Deus dá ao ser humano tudo o que ele aspira, mas requer que cada um batalhe para conquistar tudo que deseja. Deus não quer pessoas de braços cruzados esperando que tudo caia do céu; Deus quer pessoas com braços batalhando na conquista árdua de cada dia, capazes de lidar com as vitórias e com as derrotas.

Josué foi uma pessoa que esteve muito próxima de Moisés, com quem subiu ao Monte Sinai. O hagiógrafo registra que quando Moisés entrava no tabernáculo para falar com Deus, o ainda jovem Josué dali não se afastava. Pode-se afirmar que Josué foi um filho espiritual do grande legislador, de quem sempre esteve ao lado.

Para conhecer esta história em detalhes, leia o Livro de Josué. Na próxima semana, saiba como o povo de Israel se organizou após a morte de Josué conhecendo a história dos Juízes.

Nilson Antônio da Silva

terça-feira, 10 de março de 2009

10 - Moisés - 2ª Parte


Tendo Moisés levado os hebreus para fora do Egito, o faraó Ramnsés arrependeu-se de tê-los deixado partir e pôs-se a persegui-los. Diante do Mar Vermelho, Deus disse a Moisés que ordenasse às águas que se abrissem e, então, o povo pôde atravessar a pé enxuto. Quando os egípcios puseram-se a persegui-los, Deus fez as águas se precipitarem e os egípcios morreram afogados. Durante essa fuga, Deus ergueu uma imensa coluna de nuvem que separava os hebreus dos egípcios. Para os hebreus, era uma nuvem luminosa; para os perseguidores, era uma nuvem terrivelmente negra de onde brotavam relâmpagos e trovões.

Certo dia, Deus chamou Moisés ao Monte Horeb e, então, deu-lhe as tábuas dos Dez Mandamentos. Porém, enquanto Moisés estava no monte, o povo encheu-se de impaciência e, então, convenceu Aarão a construir um bezerro de ouro para que pudesse prestar-lhe culto como se fosse a Deus. Nestas palavras se expressou o povo de Deus: “Faze-nos um deus que marche à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez subir do país do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.” Aqui faz-se necessário uma pequena observação a respeito de um provérbio antigo, isto é, nem sempre a vontade do povo é a vontade de Deus.

Moisés, ao descer e ver a desobediência do povo, decepcionado e furioso, quebrou as tábuas da lei e destruiu o bezerro. O ato de adoração do bezerro foi um pecado gravíssimo que os hebreus cometeram contra Deus. Moisés, consciente dessa gravidade, suplicou ao Senhor que não os destruísse por causa do ato de pecado que cometeram. Deus teve misericórdia e continuou a conduzir os hebreus. Porém, a conseqüência desse pecado foi que o povo teve que permanecer quarenta anos no deserto antes de chegar à Terra Prometida.

Enquanto o povo caminhava pelo deserto, Moisés ia instruindo os hebreus conforme Deus lhe mostrava. Nesse tempo, foi construída a Arca da Aliança, a qual era levada pelo povo aonde este ia. Enquanto permaneceram no deserto, Deus mandava-lhes o maná, um tipo de pão que caía do céu. Mesmo assim, muitas vezes queriam voltar à escravidão no Egito, onde diziam que estavam melhor do que ali no meio do deserto.

Mesmo passando por imensas dificuldades, Moisés conseguiu conduzir os hebreus até à Terra Prometida, onde hoje é Israel. Contudo, Moisés não teve permissão de Deus para entrar nessa terra, por causa de uma vez ele ter duvidado quando o Senhor disse-lhe que tirasse água de uma rocha para dar ao povo. Na ocasião, ele havia batido na rocha duas vezes, o que demonstrou sua dúvida diante da palavra de Deus.

A história dos hebreus no deserto é uma narrativa de conquistas e de derrotas, de pecados e de perdão, de erros e de ensinamentos. Enfim, é Deus manifestando seu amor e carinho por seu povo, que muitas vezes tudo que faz é reclamar contra o Senhor. É uma história de fé e de esperança, com alegrias e tristezas, assim como é a vida. É ainda uma história de fidelidade, em que Deus é fiel ao povo e o povo luta para superar suas fraquezas e também ser fiel ao Senhor.

Moisés foi um grande líder, que soube ter compaixão de seu povo e nunca desistiu de guiá-lo, mesmo convivendo com suas fraquezas e seus erros constantes. Ele foi chamado por Deus a assumir uma missão, a qual aceitou e entregou sua vida à vontade do Senhor. Como todos nós, também teve seus momentos de alegria e dor, de satisfação e de decepção. Foi enérgico quando era preciso ser enérgico, mas também foi extremamente compassivo quando era preciso ser compassivo. Quis desistir de tudo, de sua missão e de seu povo, mas em seu coração soube compreender a fraqueza de seus irmãos e por eles suplicou a Deus. E, assim, não desistiu!

Moisés, contudo, não fez tudo sozinho. Desde o começo de sua missão, Aarão esteve ao seu lado. Nem o episódio do bezerro de ouro fez com que Moisés desistisse da confiança em Aarão, o qual tornou-se sacerdote e do qual todos os sacerdotes judeus seriam os sucessores.

Moisés teve uma vida longa, a qual durou cento e vinte anos, conforme narra a Sagrada Escritura. Na Bíblia, especialmente nos livros do Antigo Testamento, a longevidade sempre foi interpretada como sinal da graça de Deus e de seu amor para com a pessoa. Sua missão, também, foi iniciada quando ele já estava com a idade de quarenta anos, ou seja, Deus tem o momento certo para chamar cada pessoa.

Para conhecer melhor esta bela história, leia-a nos livros do Êxodo e dos Números.

Nilson Antônio da Silva

09 - Moisés - 1ª Parte


Passaram-se mais de quatro séculos desde que Jacó fora para o Egito com toda a sua família e, durante este tempo, seus descendentes se multiplicaram e formaram um povo numeroso. Os hebreus se estabeleceram nas terras do delta do Nilo, numa área de terras muito férteis que propiciavam abundantes colheitas. Naquela época, o Egito se tornara uma grande potência internacional, cujos domínios se estendiam para o sul até as terras da Núbia e, ainda, até as terras do Levante a leste. Alguns dos mais conhecidos faraós da história são daquela época, como Hatchepsut, Tutmés III, Akhenaton e sua mulher Nefertiti, Tutankhamon e Ramsés II. Akhenaton foi o faraó que, por volta de 1.350 a.C., havia implantado o monoteísmo no Egito ao fazer do deus Aton a única divindade a ser adorada em seus domínios. Essa tentativa, entretanto, enfrentou a acirrada oposição dos inúmeros sacerdotes e, após sua morte, os cultos tradicionais retornaram ao cotidiano do povo. É atribuido a esse faraó o Hino a Aton, o qual apresenta semelhanças bem próximas com o Salmo 104.

Com o decorrer do tempo, os egípcios, temerosos com o aumento dos hebreus, tornaram-nos escravos e os submeteram a muitos maltratos. Para interromper o aumento da população hebraica, o faraó ordenou que todos os filhos homens que nascessem nas famílias israelitas deveriam ser mortos. Somente as meninas eram poupadas. De forma cruenta, essa ordem do faraó foi cumprida. Um recém-nascido, contudo, foi mantido escondido das autoridades durante três meses por seus pais. Quando não podiam mais escondê-lo, estes o puseram dentro de um cesto e o lançaram nas águas do Nilo. A mãe se chamava Joquebed e o pai do bebê se chamava Anrão. O menino foi achado pela filha do faraó, que o adotou e o educou como um príncipe do Egito. Sua mãe tornou-se a sua ama e, mesmo tendo sido educado como um egípcio, a filha do faraó não ignorava que ele fosse um hebreu.

Aos quarenta anos, esse príncipe teve que fugir para as terras montanhosas de Madiã, pois ele havia matado um feitor egípcio que maltratara um escravo hebreu. Nessa terra de exílio, Moisés se casou com uma filha do sacerdote Jetro, chamada Seforá.

Passaram-se quarenta anos... o faraó que perseguia Moisés morreu... mas os egípcios continuavam a maltratar o povo hebreu. Deus, então, viu todo o sofrimento a que era submetido seu povo e encheu-se de compaixão. Era por volta do ano 1.250 a.C.

Certo dia, quando Moisés estava pastoreando seus rebanhos nas encostas do Monte Horeb, Deus apareceu-lhe numa sarça ardente e disse a ele que levasse todos os hebreus de volta à terra de Canaã, a terra prometida. Do meio do fogo que ardia e não consumia a planta, o Senhor se apresentou a Moisés dizendo o seu nome “EU SOU.”

Moisés, obediente à palavra do Senhor, levou consigo Aarão, seu irmão, e foi ao faraó pedir que permitisse a saída dos hebreus do Egito. O faraó, entretanto, não permitiu, pois eles eram a força de trabalho utilizada nas construções. Então, Deus ordenou a Moisés que lançasse dez pragas sobre o Egito: a transformação das águas do Rio Nilo em sangue, a invasão das rãs, a invasão dos mosquitos, a invasão das moscas, a peste que atingiu os animais, o aparecimento de chagas e úlceras em homens e animais, a chuva de pedras, o ataque dos gafanhotos, a escuridão durante três dias e, a última praga, a morte dos primogênitos do Egito.

Enquanto as pragas iam acontecendo, o coração do faraó foi perdendo a sua dureza e, após a décima praga, que matou inclusive seu filho, este permitiu que Moisés retirasse os hebreus do Egito. Na noite da morte dos primogênitos, Moisés mandou que os hebreus marcassem suas portas com sangue, para que os primogênitos de Israel fossem poupados. Naquela noite, todos os israelitas comeram às pressas, pois deveriam sair do Egito em breve. Foi a primeira Páscoa. Depois que Moisés saiu do Egito com o povo, o faraó resolveu persegui-los.

Leia mais sobre esta primeira parte da história de Moisés nos capítulos 1 a 13 do livro do Êxodo.

Nilson Antônio da Silva

08 - José do Egito



José foi o décimo primeiro filho homem de Jacó e foi aquele a quem este mais amava. Raquel teve dois filhos, José e Benjamim, sendo que ela morreu ao dar a luz a este último. Jacó tinha uma afeição muito grande por José, sempre protegendo-o e dando-lhe presentes e agrados. Assim, seus demais filhos sentiam muita inveja dele.

Nilson Antônio da Silva

segunda-feira, 9 de março de 2009

07 - Jacó


Esaú e Jacó eram gêmeos, filhos de Isaac e Rebeca. Conforme narram as Escrituras, Esaú era mais alto, robusto e peludo, enquanto que Jacó possuía a pele lisa e era belo. Esaú se tornou um caçador e por ele Isaac tinha maior afinidade. Quanto a Jacó, este tinha maior afinidade com Rebeca, tendo se tornado um pastor.

Por ter nascido primeiro, Esaú tinha o direito de primogenitura, muito considerado em todo o Oriente durante a Antiguidade. Este direito de primogenitura garantia ao filho mais velho a herança de todos os bens da família, bem como a sua liderança. Os demais filhos, caso não quisessem permanecer sob a liderança do irmão mais velho, deveriam procurar seus próprios rumos.

Ora, ocorreu que, certa vez, Esaú abriu mão de seu direito em troca de um prato de comida oferecida por Jacó. Embora aparentemente um episódio sem grandes significados, suas conseqüências repercutiriam com o decorrer do tempo.

Estando Isaac já em idade avançada, havia chegado a hora de abençoar o seu primogênito passando a este todos os direitos sobre a herança e a liderança de sua casa. Então, Isaac pediu a Esaú que lhe preparasse uma caça, sendo que a bênção lhe seria dada em seguida. Rebeca, tendo ouvido a conversa, resolveu interferir em favor de Jacó. Enquanto Esaú estava caçando, ela orientou Jacó para que este recebesse a bênção em lugar de seu irmão. Ela preparou uma refeição e, após fazer com que Jacó se cobrisse com uma pele de cabra para que se parecesse peludo como seu irmão era, mandou que o filho fosse ter com Isaac. O velho Isaac, já quase cego, acabou por abençoar o filho mais novo pensando que estava abençoando Esaú.

Ao voltar da caçada e tomar conhecimento do acontecera, Esaú ficou furioso e jurou matar Jacó. Assim, Jacó teve que fugir e se esconder da fúria do irmão. Ele estava com a bênção, entretanto ficara sem a herança. E quanto a Rebeca, ele nunca mais tornou a vê-la.

Enquanto vagava pelas terras do Oriente Médio, Jacó teve um sonho em que via uma escada ligando a terra ao céu. Anjos luminosos subiam e desciam a escada. Então, ele viu diante de si o Senhor Deus, que afirmou-lhe: "Tua descendência se tornará numerosa como a poeira do solo; estender-te-ás para o ocidente e o oriente, para o norte e para o sul e todos os clãs da terra serão abençoados por ti e por tua descendência.” Então, Jacó compreendeu que Deus estava com ele e que queria seu bem. Ao local em que estava quando teve este sonho, Jacó deu o nome de Betel, que significa “casa de Deus” em hebraico. Alguns séculos mais tarde, seria construído aí um santuário para Javé.

Jacó estava morando com Labão, que era seu tio, nas terras de Padam-Aram. Enquanto vivia na casa de seu tio, apaixonou-se por Raquel, sua prima. Para poder se casar com Raquel, ele ofereceu seus serviços a Labão durante sete anos. Findo esse longo tempo, ele pôde se casar. Entretanto, Labão o enganou e fez com que ele se casasse com Lia, que era a irmã mais velha de Raquel.

Ao descobrir que fora enganado, Jacó não desanimou. Trabalhou outros sete anos para Labão até que, finalmente, conseguiu se casar com Raquel. Naquele tempo, a poligamia era comum, como ainda hoje é comum na cultuara árabe.

De certa forma, ao trabalhar para Labão, Jacó vai então pagar as trapaças e fraudes que ele fizera no passado, sofrendo sob as espertezas do tio.

Passado algum tempo, Jacó ajuntou as esposas, filhos, servos e um grande rebanho e resolveu deixar a casa de seu sogro. Enquanto voltava, Jacó encontrou-se com um homem misterioso, ao qual ele pedira que o abençoasse. O homem, entretanto, recusara-se a fazer isso. Jacó havia percebido que se tratava de Deus e, por isso, tanto desejava a sua bênção. Assim, ele lutou com o homem misterioso durante a noite inteira, sendo que finalmente conseguiu que este o abençoasse. Além disso, o Senhor deu a Jacó um nome novo, Israel. Israel significa “aquele que lutou com Deus”. Logo no dia seguinte, Jacó encontrou-se com Esaú, que já o havia perdoado há tempos.

Jacó teve doze filhos homens e uma filha mulher. O predileto de Jacó era José, filho de Raquel. Seus demais filhos se chamavam Rubem, Simeão, Levi, Judá, Dã, Neftali, Gade, Aser, Issacar, Zabulon e Benjamin. A filha se chamava Dina.

Jacó foi o terceiro patriarca. Seu nome foi pronunciado por Deus a Moisés no Monte Sinai, quando o Senhor afirmou: “Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó.” Jesus, ao falar sobre a ressurreição, reafirmou o mesmo e ainda mais: “Deus é Deus dos vivos e não dos mortos.”

Nilson Antônio da Silva